Posted: 12 Nov 2012 06:10 AM PST
Postado por: www.osmormons.com
Ser um Cristão Mais Cristão
Por ÉLDER ROBERT D. HALES
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Reunimo-nos
em unidade de propósito, tomamos sobre nós o nome de Jesus Cristo e
somos cristãos. Por isso, somos levados a indagar: “Por que, então, se
sentimos esse amor pelo Salvador, alguém desejaria nos antagonizar ou
nos atacar?
Recentemente,
um grupo de santos dos últimos dias, fiéis e inteligentes, escreveu
algumas das perguntas que mais lhes causavam preocupação. Uma irmã
perguntou: “Por que a Igreja não se defende de maneira mais contundente
quando lhe são dirigidas acusações?”
Eu
responderia a sua pergunta dizendo que um dos maiores testes da
mortalidade ocorre quando nossas crenças são questionadas ou criticadas.
Nesses momentos, podemos sentir vontade de responder agressivamente —
“comprar a briga”. Mas essas são oportunidades importantes de parar e
refletir, orar e seguir o exemplo do Salvador. Lembrem-se de que o
próprio Jesus foi menosprezado e rejeitado pelo mundo. E, no sonho de
Leí, os que estavam seguindo o Salvador também foram escarnecidos (ver 1
Néfi 8:27). “O mundo odiou [meus discípulos]”, disse Jesus, “porque não
são do mundo, assim como eu não sou do mundo” (João 17:14). Mas quando
respondemos aos nossos acusadores como fez o Salvador, nós nos tornamos
não somente mais semelhantes a Cristo, mas também convidamos outros a
sentir Seu amor e segui-Lo.
Não existe
uma fórmula ou instruções por escrito para responder de maneira cristã. O
Salvador tinha um modo diferente de responder de acordo com cada
situação. Quando foi confrontado pelo iníquo Rei Herodes, Ele ficou em
silêncio. Quando esteve diante de Pilatos, prestou um simples e poderoso
testemunho de Sua divindade e Seu propósito. Ao deparar-Se com os
cambistas que estavam profanando o templo, exerceu Sua responsabilidade
divina de preservar e proteger o que era sagrado. Ao ser colocado na
cruz, proferiu a incomparável resposta cristã: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Algumas
pessoas pensam erroneamente que responder com silêncio, mansidão, perdão
e ou prestar um humilde testemunho são sinal de fraqueza ou
passividade. Mas, amar nossos inimigos, bendizer os que nos maldizem,
fazer bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos maltratam e perseguem
(ver Mateus 5:44) exige fé, força e acima de tudo coragem cristã.
O Profeta
Joseph Smith demonstrou essa coragem em toda a sua vida. Embora tivesse
“[sofrido] severa perseguição nas mãos de todos os tipos de homens,
tanto religiosos como irreligiosos” (Joseph Smith — História 1:27), ele
não retaliou nem cedeu ao ódio. Como todos os verdadeiros discípulos de
Cristo, ele seguiu o exemplo do Salvador amando as pessoas de maneira
tolerante e compassiva. Isso é coragem cristã.
Quando não
retaliamos — quando damos a outra face e resistimos aos sentimentos de
raiva — nós também estamos seguindo o exemplo do Salvador. Mostramos Seu
amor, que é o único poder capaz de subjugar o adversário e responder
aos nossos acusadores sem devolver na mesma moeda. Isso não é fraqueza.
Isso é coragem cristã.
Aprendemos
com o passar dos anos que os desafios a nossa fé não são novos e
provavelmente não vão desaparecer tão cedo. Mas os verdadeiros
discípulos de Cristo vêem oportunidades em meio à oposição.
No Livro de
Mórmon, o profeta Abinádi foi amarrado e trazido à presença do iníquo
Rei Noé. Embora o rei tivesse enfrentado Abinádi com vigor e no final
sentenciado sua morte, Abinádi ensinou o evangelho com ousadia e prestou
seu testemunho mesmo assim. Por ter aproveitado aquela oportunidade, um
sacerdote chamado Alma foi convertido ao evangelho e trouxe muitas
almas a Cristo. A coragem de Abinádi e de Alma era uma coragem cristã.
A experiência
mostra que períodos de publicidade negativa sobre a Igreja ajudam a
cumprir os propósitos do Senhor. Em 1983, a Primeira Presidência
escreveu aos líderes: “A oposição pode ser, na verdade, uma
oportunidade. Um dos contínuos desafios que nossos missionários
enfrentam é a falta de interesse em assuntos religiosos e em nossa
mensagem. Essas críticas geram (…) interesse pela Igreja. Isso
proporciona [aos membros] uma oportunidade de mostrar a verdade àqueles
cuja atenção se volta para nós”. 1
Podemos
aproveitar essas oportunidades de várias formas: uma carta respeitosa ao
redator de um jornal, uma conversa com um amigo, um comentário num blog
ou uma palavra tranqüilizando alguém que tenha feito um comentário
depreciativo. Podemos responder com amor àqueles que foram influenciados
por informação errônea e preconceito — que estão “[afastados] da
verdade por não [saberem] onde encontrá-la” (D&C 123:12).
Asseguro-lhes que responder aos nossos acusadores dessa forma nunca é
sinal de fraqueza. É a coragem cristã colocada em ação.
Ao
respondermos aos outros, cada circunstância será diferente. Felizmente, o
Senhor conhece o coração dos nossos acusadores e como podemos responder
a eles do modo mais eficaz. Quando os verdadeiros discípulos buscam a
orientação do Espírito, eles recebem a inspiração adequada para tratar
cada opositor. E a cada um, os verdadeiros discípulos respondem de
maneira a convidar o Espírito a estar presente.Paulo lembrou aos
Coríntios que sua pregação “não [consistia] em palavras persuasivas de
sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder” (I
Coríntios 2:4). Como esse poder reside no Espírito do Senhor, nunca
devemos brigar quando estamos discutindo nossa fé. Como todo missionário
sabe, debater sobre a Bíblia sempre afasta o Espírito. O Salvador
disse: “Aquele que tem o espírito de discórdia não é meu” (3 Néfi
11:29). Mais lamentável do que a Igreja ser acusada de não ser cristã é o
fato de os membros da Igreja reagirem a acusações de maneira
não-cristã! Que nossas conversas com os outros sejam sempre marcadas
pelos frutos do Espírito — “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão [e] temperança” (Gálatas. 5:22–23). Ser manso,
como define o Webster’s Dictionary, é “mostrar paciência e
longanimidade: suportar injúria sem ressentimento”. 2 Mansidão não é
fraqueza. É um emblema de coragem cristã.
Isso é
especialmente importante em nossas interações com membros de outras
denominações cristãs. Com certeza o Pai Celestial fica triste — e o
diabo ri— quando debatemos diferenças de doutrina com nossos irmãos
cristãos.
Isso não quer
dizer que temos que comprometer nossos princípios ou enfraquecer nossas
crenças. Não podemos mudar as doutrinas do evangelho restaurado, mesmo
que ensiná-las e obedecer a elas nos torne impopulares aos olhos do
mundo. Contudo, mesmo quando sentimos vontade de falar da palavra de
Deus com ousadia, devemos orar para estarmos cheios do Espírito Santo
(ver Atos 4:29, 31). Nunca devemos confundir ousadia com a dissimulação
de Satanás: o despotismo (ver Alma 38:12). Os verdadeiros discípulos
falam com calma confiança, não com orgulho e arrogância.
Como
verdadeiros discípulos, nossa principal preocupação deve ser o bem-estar
dos outros, e não provar que estamos certos. Perguntas e críticas
dão-nos a oportunidade de nos aproximarmos das pessoas e de mostrar que
elas são importantes para o Pai Celestial e para nós. Nosso objetivo
deve ser o de ajudá-las a entender a verdade, não o de defender nosso
ego ou marcar pontos num debate teológico. Nosso testemunho sincero é a
resposta mais poderosa que podemos dar aos nossos acusadores. E
testemunhos como esses só nascem do amor e da mansidão. Devemos ser como
Edward Partridge, de quem o Senhor disse: “Seu coração é puro perante
mim, pois ele é semelhante a Natanael dos tempos antigos, em quem não
havia dolo” (D&C 41:11). Ser ingênuo é ter a inocência de uma
criança, ser lento em se ofender e rápido em perdoar.
Essas
qualidades são aprendidas primeiro em casa e na família e podem ser
praticadas em todos os nossos relacionamentos. Ser ingênuo e não ter
malícia é procurar primeiro nossas próprias faltas. Quando acusados,
devemos perguntar como fizeram os Apóstolos do Salvador : “Porventura
sou eu, Senhor?” (Mateus 26:22). Se ouvirmos a resposta dada pelo
Espírito, podemos, se necessário, fazer correções, pedir desculpas,
procurar pelo perdão e fazer melhor.
Não tendo
malícia, os verdadeiros discípulos evitam julgar injustamente os pontos
de vista dos outros. Muitos de nós cultivamos grande amizade com pessoas
que não são membros da Igreja — colegas de escola, de trabalho, amigos e
vizinhos no mundo todo. Nós precisamos deles e eles precisam de nós.
Como ensinou o Presidente Thomas S. Monson: “Vamos aprender a respeitar
os outros (…) Nenhum de nós vive sozinho — em nossa cidade, em nosso
país ou no mundo”. 3
Como
demonstrou o Salvador quando estava com Herodes, às vezes os verdadeiros
discípulos devem mostrar coragem cristã não dizendo absolutamente nada.
Uma vez, quando eu estava jogando golfe, encostei de leve num grande
cacto que parecia soltar espinhos como um porco-espinho. Os espinhos do
cacto grudaram em toda a minha roupa, embora eu mal tivesse tocado nele.
Algumas situações são como essa planta: elas só nos causam dano. Nessas
situações, é melhor mantermos distância e simplesmente irmos embora. Se
o fizermos, alguns talvez tentem provocar-nos e fazer-nos discutir. No
Livro de Mórmon, lemos sobre Leônti e seus homens que acamparam numa
montanha. O traidor Amaliquias instou Leônti a “descer” e encontrá-lo no
vale. Mas quando Leônti desceu a montanha, foi envenenado “aos poucos”
até morrer, e seu exército caiu nas mãos de Amaliquias (ver Alma 47).
Com argumentos e acusações, algumas pessoas tentam rebaixar-nos. Porém, é
no nível mais elevado que se encontra a luz. É no alto que primeiro
vemos a luz da manhã e a última do entardecer. É no alto que reside a
segurança. Lá está a verdade e o conhecimento. Às vezes, certas pessoas
querem nos fazer descer de lá e juntar-nos a elas em argumentação
teológica. Essas poucas pessoas que criam contendas estão determinadas a
entrar em debates religiosos, on-line ou pessoalmente. É sempre melhor
que mantenhamos o bom nível de respeito e amor mútuos.
Se agirmos
assim, estaremos seguindo o exemplo do profeta Neemias que construiu um
muro em volta de Jerusalém. Os inimigos de Neemias tentaram fazer com
que ele os encontrasse no vale, pois “intentavam fazer-[lhe] mal.” Ao
contrário de Leônti, Neemias recusou sabiamente sua oferta com esta
mensagem: “Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que
cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?”
(Neemias 6:2–3). Nós também temos uma grande obra a fazer, que não será
terminada se nos deixarmos levar pelas discussões ou distrações. Em vez
disso, devemos reunir coragem cristã e seguir em frente. Como lemos em
Salmos, “Não te indignes por causa dos malfeitores” (Salmos 37:1).
O mal sempre
estará conosco neste mundo. Parte do grande teste da mortalidade é estar
no mundo sem ser do mundo. Em sua Oração Intercessória, o Salvador
pediu ao Pai Celestial: “Não peço que os tires do mundo, mas que os
livres do mal” (João 17:15). Mas assim como o Salvador alertou contra a
perseguição, Ele prometeu paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou;
(…). Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).
Testifico que, com o manto de Sua paz sobre nós, a promessa da Primeira
Presidência vai-se cumprir: “A oposição, que pode parecer difícil de
suportar, será uma bênção para o reino de Deus na Terra.” 4
Para
aquela irmã que tinha uma pergunta e a todos que procuram saber como
responder aos nossos acusadores, eu respondo: amando. Seja qual for a
raça, o credo ou a convicção política, se seguimos Cristo e mostramos
Sua coragem, nós devemos amá-los. Não sentimos que somos melhores do que
eles. Em vez disso, desejamos com amor mostrar a eles uma maneira
melhor — a maneira de Jesus Cristo. Sua maneira leva à porta do batismo,
ao caminho estreito e apertado do viver justo, e ao templo de Deus. Ele
é “o caminho, e a verdade e a vida” (João 14:6). Somente por meio Dele
nós e todos os nossos irmãos e irmãs podemos herdar o maior de todos os
dons — vida eterna e felicidade eterna. Ajudá-los, ser um exemplo para
eles, não é para os fracos. É para os fortes. É para você e para mim,
santos dos últimos dias, que pagam o preço de seguir a Jesus,
respondendo aos nossos acusadores com coragem cristã.
Encerro
fazendo do testemunho de Mórmon o meu testemunho: “Eis que sou
discípulo de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Fui por ele chamado para
anunciar sua palavra ao povo, a fim de que tenham vida eterna” (3 Néfi
5:13). Presto meu testemunho especial Dele — de que nossa vida pode ser
eterna porque Seu amor é eterno. Que possamos partilhar de Seu amor
eterno e incondicional com nossos irmãos e irmãs em todos os lugares, é
minha humilde oração em nome de Jesus Cristo. Amém.
Notas:
1. Primeira Presidência, carta, de 1° de dezembro de 1983.
2. Webster’s Third New International Dictionary, 1986.
3. Thomas S. Monson, “In Quest of the Abundant Life”, Ensign, março de 1988, p. 3.
4. Primeira Presidência, carta, 1° de dezembro de 1983.
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